quinta-feira, 19 de novembro de 2009

As influências de Skinner na EAD

As influências de Skinner na EAD
* Laudinéa de Souza Rodrigues

Burrhus Frederic Skinner, psicólogo norte-americano, nascido em 1904, foi o criador do que ele denominou “análise experimental do comportamento”, método que permite prever e controlar cientificamente o comportamento humano. Doutorou-se em Harvard, em 1931, e depois de alguns anos lecionou na Universidade de Minnesota e na Universidade de Indiana, da qual foi presidente, regressou a Harvard como professor e pesquisador em 1947.
Skinner interessou-se pela análise da aprendizagem verbal, pelo adestramento de pombos, pelas máquinas de ensinar e pelo controle do comportamento mediante reforço positivo. Até a sua morte, em 1980, desenvolveu trabalhos de aplicação tecnológica dos princípios da análise experimental do comportamento no campo do ensino e no trabalho psicoterapêutico. Além disso, dedicou-se à elaboração de uma filosofia, o Behaviorismo, que se vincula ao movimento de análise experimental do comportamento onde há o uso de técnicas para a sua modificação com o intuito de melhorar a sociedade e tornar o homem mais feliz. Sua principal proposição era de que um reflexo não é senão a correlação entre um estímulo e uma resposta.
Foi Skinner, um dos principais propositores do uso de aparatos tecnológicos, preconizava que estes aparatos conferiam mais eficácia ao ensino. Suas famosas “máquinas de ensinar” foram, de certo modo um dos precursores do computador (pelo menos no seu uso educacional). Tendo todo esse ambiente teórico favorável e ainda com o desenvolvimento dos meios de comunicação eletrônicos (rádio e televisão) a educação a distância ganha um novo impulso. Melhoraram as possibilidades de transmissão do conhecimento.
Nas suas “máquinas de ensinar”, o aluno é colocado diante de um painel onde aparece uma questão relativa a algo que ele já conhece e, ao mesmo tempo, uma nova informação concernente ao mesmo tema. O aluno deve responder à questão apresentada e, se acertar, a máquina passará automaticamente para a questão seguinte, que será referente à informação dada imediatamente antes. Se não acertar, não poderá prosseguir, devendo retornar a algum passo anterior.
Por meio desse procedimento, organiza-se a aprendizagem do aluno passo a passo, em ordem crescente de dificuldade, seguindo os princípios da modelagem do comportamento, em que cada resposta certa do aluno constitui um reforço para a aprendizagem.
A chamada instrução programada derivou dessas máquinas, as questões apresentadas aos alunos são impressas e as respostas corretas aparecem em outra página, em um gabarito, sendo intercaladas por pequenos textos informativos sobre os quais o aluno deverá responder na etapa seguinte. De acordo com o comportamentalismo, esse procedimento permite que o ensino tenha uma progressão gradual, que respeita o ritmo de cada aluno tornando o processo de ensino e aprendizagem mais eficiente.
Skinner afirmava que o professor não só era dispensável, como também era um mau instrumento de ensino. Seu argumento fundava-se no fato de o professor, historicamente, trabalhar com grupos de alunos, não podendo acompanhá-los individualmente. Para esse autor a possibilidade de ensinar adequadamente, isto é, de modelar o comportamento do aluno exigia que esse aluno fosse tratado individualmente. E o professor, sendo um só, e centralizando a ação de ensinar na sua pessoa, não possibilitava essa situação individualizada.
É interessante assinalar que, ao contrário do que parece ao senso comum educacional, a idéia do ensino individualizado é de cunho empirista. E o movimento behaviorista (que na Educação foi reconhecido como “tecnicista”) tinha como “pedra de toque“ exatamente a individualização do ensino. Claro que quando se considera o conhecimento como originado do exterior, a tendência é se desvalorizar o sujeito. E na psicologia behaviorista não era diferente. O sujeito, apesar de operante (na visão do neobehaviorismo skinneriano), era visto como um ser moldável, bastando controlar-se às contingências de reforço. Portanto essa apologia do ensino individualizado não era no sentido de dar ao indivíduo oportunidade para manifestar-se e traçar seu próprio caminho, mas de condicionar-lhe a contento. Modificar o comportamento de um modo mais eficaz, atingindo, portanto, melhor os objetivos educacionais.
Diante de tais informações nascem os seguintes questionamentos: como o educando poderia estabelecer uma relação dialógica com uma das máquinas de ensinar de Skinner? Quando ele encontraria nesta máquina o referencial de humanidade, de profissionalismo e de intelectualidade que o educando busca em seu educador? Seria possível que no ensino individualizado o sujeito encontraria respaldo para preencher as lacunas humanas da afetividade e da emoção que são preenchidas na relação com os outros? De que forma o educando construiria seu conhecimento com o uso da máquina de ensinar e sem a presença do outro neste processo?
Sabe-se que desde muito cedo o ser humano necessita das relações com o outro, pois por meio delas é que ele se apropria das significações socialmente construídas, como diz Fontana (1997), ele “reconstrói internamente as formas culturais de ação e pensamento, assim como as significações e os usos da palavra que foram com ele compartilhados” (p. 61). Toda função psicológica se desenvolve em dois planos, entre os indivíduos, social e no indivíduo, individual, sua maneira de agir e pensar são resultados de sua apropriação das formas culturais de ação e de pensamento do seu meio. Sendo assim nota-se a relevância das relações entre os indivíduos e isto não é diferente na educação onde obrigatoriamente deve haver uma relação de diálogo onde se constroem juntos, professor e aluno, um contexto embasado na troca de experiências, na ascensão da curiosidade, na inquietação e na consciência do inacabamento.
Para Freire (1996), “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História” (p. 136). O espaço escolar que fomenta e fortalece a relação professor e aluno em que há de fato esta abertura ao mundo e aos outros fomenta também a oportunidade de tornar esta abertura o objeto da reflexão crítica de ambos onde estabelece o repensar de suas práticas de suas falas. Neste processo de diálogo o educando não é moldado, mas auxiliado na construção de sua intelectualidade.

Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FONTANA, Roseli. Psicologia e trabalho pedagógico / Roseli Fontana, Maria Nazaré da Cruz. São Paulo: Atual, 1997.


*A autora é acadêmica do 8° período do curso de Pedagogia na
Universidade Federal de Rondônia.
Artigo acadêmico escrito em setembro de 2009.

3 comentários:

Academicos de Pedagogia 8º periodo disse...

mesmo em meio a tantos avanços tecnológicos do séc. XXI onde a educação também se vê inserida neste contexto é imprescindível atentarmos pra a relevância do educador como agente ativo deste processo....


Laudinéa de Souza
8º Período de Pedagogia - UNIR

Academicos de Pedagogia 8º periodo disse...

concordo com o seu comentario, que e de suma importancia, a intermediação do professor junto com a tecnologias. como sabemos tem coisas que so um educador pode fazer.
viviane.
bjus...

Anônimo disse...

Parabéns por suas excelentes colocações. De fato é imprescindível a interação entre professor e aluno, mas como sabemos a EAD é a bola da vez, portanto este problema será superado no decorrer da história.

Eliane Caldeira.